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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como de costume...


“E, saindo, foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.” Lucas 22.39
Fico fascinado com a Palavra de Deus. A cada dia que encontro uma pérola escondida, sinto-me mais rico, mais abençoado, mais amado; um pouquinho mais perto do perfeito modelo posto por Deus, o Seu Unigênito, agora Primogênito.
O apóstolo Mateus explica em seu evangelho, capítulo 13, reproduzindo as palavras de Jesus, que o Reino de Deus é como uma pérola de grande valor, escondida. Um homem, achando-a, deve vender tudo que tem para adquiri-la.
Ao passar atento por Lucas 22.39, achei uma pequena pérola, escondida entre o “Monte das Oliveiras” e os “últimos momentos de Jesus, fisicamente entre nós”: a expressão “como de costume”.
Como de costume, Jesus orava; como de costume, Jesus ia ao Monte das Oliveiras, lugar de intimidade com o Seu Pai. Como de costume, Jesus ensinava. Como de costume, Jesus amava. Mas também, por causa de um costume, Jesus foi trocado por um salteador. Por causa de costumes, Israel se afastara de Deus.
Os costumes exercem sobre nós influência que não percebemos claramente, pois não temos o costume de atentar para essas coisas. Os costumes moldam o nosso modo de ver, de fazer e de agir, de maneira que, ao errar, não é fácil perceber, e tampouco tornar atrás. Não fosse a atuação do Espírito Santo em nós, estaríamos completamente sem esperança.
Não é por acaso que o Apóstolo Paulo ensina em sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 15, que as más conversações corrompem os bons costumes. Infiro, a partir dessa premissa, que as boas conversações constroem bons costumes.
Como de costume, Jesus orava; como de costume, Jesus ia ao Monte das Oliveiras, lugar de intimidade com o Seu Pai. Como de costume, Jesus ensinava. Como de costume, Jesus amava.
Os apóstolos, sim, os apóstolos de Jesus, haviam se acostumado a repetir os costumes do seu povo. Precisamente por isso tiveram enorme dificuldade para compreender os ensinamentos do Mestre, porque estes iam de encontro aos seus costumes.
Os principais sacerdotes usaram o seguinte argumento para sustentar a acusação contra Jesus, apresentando falsas testemunhas, aliás, esse também devia ser um de seus costumes: “Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei; porque nós lhe ouvimos dizer que esse Jesus, o nazareno, há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu.”
Apesar de falsificar as testemunhas e seus testemunhos, a última acusação, todavia, foi autêntica. De fato, Jesus intencionou sistematicamente conduzir os que cressem a abandonar costumes, sobretudo os maus costumes.
O escritor aos Hebreus, no capítulo 13, exorta para que nossos costumes sejam isentos de avareza, contentando-nos com o que temos; porque Jesus nos prometeu: “Não te deixarei, nem te desampararei.” Qualquer dessemelhança com a minha vida e com o mundo ao redor não pode ser fruto do acaso. A meu ver, encontrada a dessemelhança, esta ocorre em razão de costumes construídos a partir de qualquer ponto longe de Deus.
Jesus ensinou que devemos ter o costume de orar, de resistir ao diabo, de não pagar mal por mal, de não dar a oferta insignificante, de não falar antes de ouvir, de não julgar, de ensinar à criança valores altos. Jesus ensinou que devemos ter o costume de perdoar, de trabalhar, de descansar, de respeitar as autoridades, de obedecer aos pais, de honrar o cônjuge, de proteger as crianças, de acudir ao necessitado, de honrar compromissos, de falar a verdade, de não jurar, de não prestar a Deus um culto mecânico, irracional. Jesus nos ensina que devemos nos acostumar a fazer o melhor possível, e assim sermos o melhor possível.
Era hábito de Jesus orar; era hábito de Jesus ir ao Monte das Oliveiras, lugar de intimidade com o Seu Pai. Eram hábitos de Jesus ensinar e amar.
A sabedoria popular consagrou alguns provérbios, que a Palavra de Deus corrobora.
- O hábito aquece, mas é preciso vesti-lo (é preciso cultivar hábitos revestidos de sentido).
- O hábito do cachimbo deixa a boca torta (as más conversações corrompem os bons costumes).
- O hábito é uma segunda natureza (mudança de atitudes e de caráter).
- O hábito elegante cobre, às vezes, um tratante (mudança de atitudes e de caráter).
- O hábito faz o monge (disciplina e autodomínio).
Se somos discípulos de Jesus, devemos cultivar valores, pregar, andar e acreditar como Jesus, tal qual os seus costumes. Muitas vezes, os costumes que nossos pais (povo e antepassados) nos legaram são contrários à sã doutrina - 1Pedro 1.18. É necessário permanente confronto, avaliação e reavaliação de nossos costumes e cotejamento frente ao que Jesus nos ensinou, por meio de seus costumes.
Não podemos esperar que grandes mudanças em nossas vidas ocorram instantaneamente e sem esforço. Isso é ingenuidade. Jesus cultivava excelentíssimos costumes, mas estes eram fruto de prática constante, abnegação, disciplina e amor. Caso contrário, talvez houvessem sido corrompidos.
Poderíamos discutir se o costume é formado pela prática constante, ou a prática ocorre por causa do costume. Mas seria inútil; nos perderíamos em conceitos e divagações.
Imaginemos um nadador que adquiriu o hábito de nadar, praticando diariamente. Quando se deu conta, não podia mais deixar de nadar. Seu corpo se habituara de tal forma, que não se sabe mais por que continua nadando. Outrossim, se deixar de praticar por certo tempo, perderá o hábito.
Podemos concluir que Jesus ia ao Monte das Oliveiras para orar, como de costume, porque construiu esse hábito, revestido de sentido, e não poderia mais deixar de fazê-lo. Necessitava disso e esse costume lhe foi providencial em momento decisivo. Podemos também entender que tal costume devia ser sustentado com disciplina, sob pena de extinção.
Por fim, deixo um adágio para reflexão: “a descontinuidade é contrária ao aperfeiçoamento”. É como o dia e a noite, a luz e a escuridão. Nunca serão vistos ao mesmo tempo. Não se pode esperar que algo seja feito com maestria sem perseverança, sem teimosia.
“Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1:4)
Devemos cultivar bons costumes, afastando as más conversações, perseverando no partir do pão, na doutrina dos apóstolos, a sã doutrina. Devemos conduzir nossos filhos a bons hábitos, mesmo que depois eles não saibam exatamente como tudo começou. Não saberão exatamente se possuem bons costumes por que praticam, ou se praticam por que têm bons costumes. Não importa, desde que tais costumes sejam “vestidos” de sentido.
A partir desse entendimento, “deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição”, pois “aquele que perseverar até ao fim será salvo”. Salvo dos maus costumes e também da ira vindoura.

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